Brasília – Mais de um mês após o presidente Donald Trump decretar taxações unilaterais contra os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos em todo o mundo, o Brasil inclusive, a guerra comercial gerada por essa medida não provou grandes mudanças no comércio externo brasileiro em abril.
O superávit apurado no mês foi semelhante ao de 2024: US$ 8,2 bilhões contra US$ 8,4 bilhões. É fato, no entanto, que o resultado acumulado de janeiro a abril deste ano pela balança comercial foi bem menor do que o apurado no mesmo período de 2024: US$ 17,7 bilhões ante US$ 26,9 bilhões. Os dados são do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) da FGV Ibre.
O grande peso para essa redução veio da mudança de sinal nas negociações bilaterais com a China, de janeiro a abril, que foram negativas em US$ 3,6 bilhões este ano, enquanto acumulava superávit de US$ 5 bi no passado. Isso, no entanto, não guarda nenhuma relação com as mudanças tarifárias americanas, explica Lia Valls, coordenadora do Icomex.
Segundo ela, “o déficit no comércio com a China foi registrado em janeiro e fevereiro e são o resultado do atraso da safra da soja, principal produto da nossa pauta de exportação com o mercado chinês.
Pauta das exportações segue inalterada
A economista destaca ainda que não houve mudança na pauta de exportação brasileira nesse primeiro mês do anúncio das mudanças tarifárias implementadas pelos Estados Unidos . Na importação também não houve nenhuma mudança drástica.
De acordo com Lia Valls, “houve um aumento na importação de produtos de couro da China, mas não houve salto ou mudança no percentual de participação. Ou seja, seguiu um movimento normal de crescimento que já vinha sendo observado”.
As frequentes mudanças nas regras americanas, diz a coordenadora do Icomex, dificultam que se faça qualquer previsão para o futuro. A economista avalia, no entanto, que mantido o acordo firmado entre Estados Unidos e China, que estabeleceu em 30% a taxa de importação americana sobre os produtos chineses e de 10% a tarifa de importação aos americanos pela China, o Brasil pode perder a oportunidade de ampliar as exportações de calçados e têxteis para os Estados Unidos. Por outro lado, deve reduzir o temor de que o mercado brasileiro seja inundado por produtos chineses.
Na percepção da economista, “os chineses são muito competitivos, pode ser que possam absorver essa taxa de 30%. A questão é que ainda há muita incerteza; por isso, é muito difícil prever o que virá pela frente. A guerra comercial não foi preponderante para o resultado da balança comercial brasileira. Será preciso observar o que vem pela frente “.
fonte: FGV/Ibre