Pequim – A Iniciativa Cinturão e Rota (ICR), um dos projetos mais ambiciosos da China, está alinhada com as estratégias de crescimento do Brasil, especialmente nos setores de infraestrutura, comércio, energia sustentável e inovação tecnológica. É o que destacou Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, em entrevista exclusiva à Xinhua.
Em novembro de 2024, os dois países consolidaram esse alinhamento ao criar sinergias entre a ICR e programas brasileiros como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Plano Nova Indústria Brasil. A ideia é impulsionar a modernização dos dois mercados e ampliar a interconectividade regional de forma sustentável.
Infraestrutura: o caminho para a conectividade e competitividade
“O Brasil tem um imenso potencial para atrair investimentos em logística e transporte. Precisamos modernizar nossas ferrovias, portos e toda a infraestrutura para nos integrarmos melhor às cadeias globais de valor. E a China pode ser uma grande parceira nesse processo”, afirmou Viana.
A expertise chinesa em grandes projetos e inovação tecnológica é um diferencial para o Brasil, que busca fortalecer sua logística para exportação, especialmente no agronegócio. Um exemplo concreto dessa colaboração é o Porto de Chancay, no Peru, desenvolvido com investimentos chineses. Esse porto abriu uma rota comercial direta entre a costa oeste da América do Sul e a Ásia, e o Brasil pretende se conectar a ele por meio do Programa Rotas da Integração Sul-Americana.
“Estamos buscando investimentos para modernizar nossos portos e ferrovias, incluindo uma ferrovia bioceânica que ligará os centros do agronegócio brasileiro ao Pacífico peruano, aproveitando o potencial do Porto de Chancay”, explicou Viana.
Expansão comercial: oportunidades no gigantesco mercado chinês
Com um crescimento do PIB de 5% em 2024, a China segue como um dos principais motores da economia global. Para o Brasil, isso representa grandes oportunidades, principalmente nos setores de alimentos e bebidas, tecnologia limpa, economia digital e serviços financeiros.
Viana destacou ainda a evolução do perfil de consumo chinês. “A classe média está crescendo, e a demanda por produtos premium e sustentáveis está em alta. Esse cenário abre portas para o Brasil diversificar sua pauta exportadora e agregar mais valor aos produtos enviados ao mercado chinês.”
Um exemplo desse movimento é o setor cafeeiro. Em novembro de 2024, a Luckin Coffee firmou um Memorando de Entendimento (MoU) com a ApexBrasil para adquirir 120 mil toneladas adicionais de café brasileiro. Com isso, entre 2025 e 2029, a empresa chinesa planeja comprar 240 mil toneladas, no maior acordo do gênero já firmado.
“Esse acordo mostra o potencial do Brasil em atender nichos de mercado exigentes e sustentáveis. Sejam cafés especiais, sucos ou outros produtos do agronegócio, a China segue como um destino estratégico para exportadores que apostam na qualidade e na inovação”, reforçou Viana.
Modernização industrial: caminhos para um futuro sustentável
O compromisso da China com o desenvolvimento de novas indústrias produtivas se conecta diretamente ao Plano Nova Indústria Brasil, que busca modernizar o setor industrial nacional por meio de inovação, alta tecnologia e pesquisa.
“O Brasil possui algumas das maiores reservas minerais do mundo e é um polo emergente de tecnologia. Queremos ir além da exportação de commodities e agregar mais valor à nossa indústria”, explicou Viana. Segundo ele, a experiência da China pode ser crucial para impulsionar essa transformação.
A convergência entre os dois países abre espaço para novas colaborações, especialmente em fintechs, e-commerce, economia verde e pesquisa & desenvolvimento. “A Iniciativa Cinturão e Rota é um projeto estratégico que trará investimentos essenciais para a infraestrutura do Brasil, garantindo segurança alimentar global e impulsionando nossa nova indústria”, concluiu Viana.
Fonte : Agência Xinhua