Em visita à França, o presidente Lula pediu ao presidente francês, Emmanuel Macron, que “abrisse seu coração” para o acordo UE-Mercosul. A declaração do presidente ocorre quando o Brasil assume a presidência do Mercosul por seis meses, a partir de sexta-feira, 6 de junho de 2025. Nesse período, já está claro que uma das prioridades do Brasil será tentar alcançar a conclusão e a ratificação do acordo entre os blocos econômicos. Apesar das negociações terem sido concluídas, até o momento não foi finalizado o processo de assinatura e ratificação do acordo para que ele entre em vigor.
Um dos motivos para a dificuldade de avanço é a divergência de interesses entre alguns setores específicos da economia de países membros da União Europeia, como o setor agrícola, que é subsidiado e protegido pela falta de eficiência em comparação com outros produtores globais, como o Brasil. O temor é que o acordo seja rejeitado no momento da votação nas casas legislativas de países como França, Itália e Polônia.
Contudo, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e a guerra tarifária generalizada iniciada sob sua gestão causaram grande perturbação na economia internacional, principalmente sobre os fluxos de comércio. Os Estados Unidos são importantes parceiros comerciais de diversos países europeus e sul-americanos, que foram diretamente impactados pelas tarifas impostas por Trump. Assim, um dos caminhos que se abre para esses países é a busca por aproximação com outros parceiros comerciais, a fim de reduzir a dependência dos Estados Unidos, mas também evitando redirecionar essas relações econômicas exclusivamente para a China, que também é um importante parceiro econômico de países europeus e sul-americanos. A intensificação da competição entre China e Estados Unidos pode criar vulnerabilidades para países que têm dependência significativa da economia
chinesa.
Nesse contexto, a negociação e conclusão de acordos de livre comércio com outros parceiros têm emergido como uma importante opção para os países que buscam reduzir o impacto negativo das tarifas americanas sobre suas economias. Nesse cenário, o acordo UE-Mercosul ganha interesse renovado nas discussões no âmbito da União Europeia, pois poderia contribuir para dinamizar a economia do bloco e reduzir sua dependência dos Estados Unidos. Para os países do Mercosul, o acordo também pode ser um mecanismo para compensar as perdas de comércio causadas pelas tarifas impostas pelo governo Trump. Além disso, a diversificação de parceiros e a aproximação com novos mercados reduzem a dependência direta dos Estados Unidos e diminuem a pressão econômica para que se capitule às demandas do presidente americano.
Nesse novo cenário da economia internacional, o acordo se torna estratégico para ambos os blocos, não apenas no sentido de dinamização econômica, mas também para reduzir a dependência e a consequente vulnerabilidade aos caprichos do presidente americano. A expectativa do governo brasileiro é que esse novo cenário gere o impulso necessário para que o acordo seja assinado, ratificado pelos países membros de ambos os blocos e, finalmente, entre em vigor.
Fonte : Fernanda Brandão, coordenadora de Relações Internacionais da Faculdade Mackenzie Rio